sofia de preconceito

bem, isso é difícil de falar. seria bom começar com uma introdução: quem tá digitando esse texto é um caboco feito de carne, de espaço vazio, de água. de qualquer maneira, não sou especialista em qualquer coisa. bem acho que isso resume minha imbecilidade muito mal, então vamos lá

o preconceito tá aparecendo muito por aí, todo mundo fala dessa merda. mas ninguém, pelo jeito, fala sobre o que é o preconceito. também não sei o que é, mas acho que é importante parar de ser preguiçoso e sair por aí pegando definições já consagrada das coisas, até porque estamos a decidir coisas importantes, como direitos das pessoas - onde tá escrito direito, leia "coisas necessárias pra que alguém possa ter uma vida decente nessa merda, ou pelo poder reclamar quando não tem". tem uma fábula científica (acabei de inventar essa) muito interessante sobre isso de acreditar no que todo mundo fala justamente porque já falavam isso muito antes de tu nascer, mas não vou falar dela. se quiser procurar, envolve macacos, bananas e jatos de água

imagina que exista uma vila de algumas pessoas e que elas não tem pretensões. isso, elas só querem viver de boa, como se todas fossem robinson crusoe, só que em grupo. ok, agora esquece essa vila, porque não vivemos nesta situação. vivemos em um emaranhado de sensações, de emoções, racionalidades, e burocratizações tentando organizar as coisas, mas sem querer fazendo parte da bagunça. como bem sabem, a sociedade e a vida em geral são coisas bem complexas para serem abordadas em um post de blog, em um vídeo do youtube, em uma entrevista com marília gabriela. pensando nessa impossibilidade, acho interessante pensar outra coisa: o que permite o preconceito? como não pretendo colocar ponto final no assunto, não vejo mal nenhum em escrever sobre isso

bem, existem grupos em que se aglomeram pessoas, existem uns que são por acaso, outros que são organizados e tem até hino. até aí tudo bem. o problema começa quando os grupos criam ideologias. quando os grupos criam peças constitucionais que ignoram completamente a existência de outros seres e de outros grupos. uma hora ou outra, essa ideologia vai entrar em conflito com ideologias de outros grupos - o que leva a não só os grupos se degladiarem, mas as seus membros também. mas esse não é o maior problema. o clímax desse thriller é a porra da identificação. quando os membros passam a idolatrar um jeito de ser, uma maneira de se relacionar com coisas, pessoas e existir, a merda tá feita

justamente porque esse tipo de idolatria cega as pessoas. digo que cega as pessoas por causa do excesso de luz. é tão claro pra esses membros (que viraram sócios) desse grupo (que virou clube) o que é certo e errado. a simplicidade do ídolo é a responsável por essa clareza: quem faz parte destes clubes sabe muito bem o que tem que ser, não sabe bem o que fazer, mas sabe quais são as metas

tem um buraco nessa história. entre ser alguma coisa e ter de ser outra coisa, existe o caminho para essa outra coisa, que envolve fazer muita merda fascista. todo clube precisa de alguns rituais de iniciação e permanência - eles podem ser inócuos, mas caso entrem em desacordo com o código ou existência de outro clube, merda acontece. exatamente nesse buraco que o preconceito se alimenta, come toda a merda fascista e caga coisa muito pior. não é o único lugar onde ele acha comida, mas é um dos primeiros em que ele procura

mas voltando a pergunta: o que permite o preconceito existir? como disse anteriormente, não quero finalizar o assunto, então só vou provocar

sabe aquele cara que quebrou uma porrada de imagem de santa, ou aquele cara que xingou o outro na rua porque ele se parece com tudo aquilo que o cara queria ser, mas não tem coragem, ou porque ele é o mais próximo da descrição do que é baixo, ruim, descartável? então, falar que eles tão errado é fácil, quase todo mundo sabe disso. prender eles não vai adiantar o problema. criminalizar só serve pra distanciar as pessoas do ato: quando alguém é considerado um monstro, é considerado um desumano e logo, não preciso me preocupar, já que sou humano, então o que tô fazendo tá beleza, nunca vou fazer atrocidade. ERRADO! todo mundo faz cagada. não tô falando que a gente deve incentivar a cagação, só tô dizendo que jogar ela na pia ou no ralo do chuveiro além de não adiantar é o prelúdio de um desastre. devemos perguntar para esses caras - e para nós - o que, que coisa, que atitude, que pensamento, que códigos de ética dos clubes permite que a gente consiga destratar o outro e com consciência de que não estava fazendo nada demais? como chegamos ao ponto em que algumas pessoas tem mais valor do que outras?

sim, estou escrevendo sobre várias castas, vários dualismos, grupos, clubes que existem e se enfrentam como se não houvesse amanhã. posso citar religião x ciência, glbt x evangélicos, pobre x rico, cultura popular x cultura chique, razão x emoção, gary x ash, mendigos x playboys, finn x rei gelado...

a partir do momento em que as legislações desses grupos, clubes, classes é levada ao ponto de fanatismo, de extremismo, e entra em choque com outros, dá merda. e os integrantes, os membros desses grupos compram a briga - que seus sacerdotes, professores e líderes inventam - facilmente. nesses debates em que ninguém se conversa a intolerância é a regra e não tem como produzir nada que seja a favor do bem comum quando se parte da intolerância, porque nesse caso os fins não justificam os meios. essa treta deixa marcas, cicatrizes e essas não somem com o tempo. dependendo de como são tratadas, só tendem a crescer, abrindo novamente, virando ferida e necrosando

de longe nem parece perto


com tudo isso quero dizer que enquanto nos acharmos como diferentes por besteiras ideológicas, por causa de um pacto firmado sem nosso consentimento, seremos obrigados a fecharmos os olhos pra todas as reais diferenças que existem. quando reparamos nelas, toda essa coisa de grupo vira bobagem, ladainha. somos iguais, justamente porque somos todos singulares, diferentes ao máximo possível um do outro

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