forca é um jogo pra todas idades

toda vez que vejo notícias sobre crimes e punições, penso que a galera curte muito uma chacina, um pedófilo, um atentado. assim pelo pelo o assunto e a mobilização que essas ações geram. tem sim muita coisa errada por aí e tentar mudar todas é muito difícil, mas não tentar mudar nenhuma já é sacanagem. o que quero dizer é que quando esses crimes são repercutidos não se pensa na situação que permitiu que um ser humano, tão ser e tão humano como todos nós - não acredite naquelas baboseiras de psicopatia ou bandidagem generalizada, isso é estratégia para tentar  separar quem comete crime do resto da população, como se a partir do momento em que se investe em quebrar uma regra social, o sujeito em questão se transforma inteiro em um criminoso -, cometer o crime, o que acontece é a vontade geral da nação em expor a sua cabeça em praça pública, como nos filmes de idade média.

dito de outro modo, não importa se ele matou alguém, ou se outra pessoa pode matar outro alguém, o que importa é que este cara, que repito, era sujeito como todos nós e está agora reduzido, simplificado a um criminoso, seja punido. o que escuto nesses momentos é: "fodam-se todas as pessoas envolvidas na situação, a vítima não é a peça mais importante do tabuleiro!".

não se vê uma mobilização de capital sentimental nem financeiro em soluções para esses problemas. aliás, se um grupo ou alguém tentar agir nessas faixas de gaza, além do risco e do pouco retorno, é muito provável que a opinião pública descorde fortemente.

olha só a armadilha: imaginemos, só para uma função didática, que a sociedade seja um ente, seja um ser vivo com carne, linguagem, vontade e de certo modo imortal. ela conseguiu convencer uma galerinha que viver no seu condomínio é melhor do que viver perambulando por aí. até aí, poucos problemas, só que essa galerinha foi se reproduzindo, a população foi crescendo muito e por algum motivo que não se entende muito bem, a sociedade achou que as coisas estavam meio monótonas e resolveu que iria começar a separar essa galerinha em grupos, sendo que uns iriam ser muito mais privilegiados do que os outros - dito de outra forma, fundou o poder. isso já foi mancada da sociedade. e os problemas que eles evitavam fora do condomínio justamente por estar nele, começaram a aparecer por lá. é lógico que a sociedade desconfiou que isso poderia, de alguma forma, esvaziar o seu condomínio, sua população poderia simplesmente sair de lá e procurar outros jeitos de ser feliz. e então o que ela faz? põe a culpa na galerinha! quero dizer, não em toda a galerinha, em uma parte dela. e o mais improvável aconteceu: eles acreditaram! a sociedade foi ao delírio, não se continha de tanto gozo. nada tinha dado um prazer sádico tão agudo pra ela antes e por isso resolveu que colocar essa galerinha contra si o tempo todo, em diversos níveis e intensidades, seria seu objetivo. inclusive, ela ajudou a criar uma cultura de violência e crime, em que transgredir de modo a violentar é uma nova alegria e regra para a galerinha - e assim não faltará auto-destruição para eles, nem deleite para ela.

como a galerinha tava aumentando o espaço do condomínio e com isso dando mais diversão e renda para a sociedade, sem nenhum benefício, pelo contrário, com muito mais danos, é lógico que ela tomou muitas outras medidas além da que citei ali em cima, como por exemplo, dar um jeito de amedrontar tanto essa galerinha e depois fazê-los pensar que precisam dela para sobreviver.

também não acredito muito na potência de realidade dessa parábola, até porque a sociedade não é um ser, e nós não precisamos centralizar um inimigo para agir, para nos movimentarmos em direção à mudança. nós somos o problema e nós somos a solução.

enfim, acho de já mudei de assunto umas três vezes durante o texto. a pergunta que norteia a porra toda é:

o que é mais importante: destruir os errantes ou cortar a alimentação dos erros?












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