- Um, dois, três, quatro, quatro,
quatro, quatro...
Um garoto cansado demais para ser
educado a impediu de continuar contando os passos ao lhe emprestar
sem pedir um teco do seu tempo e movimento.
- Que é isso?
- Comemoração do dia dos
trabalhadores, respondeu depois de conferir no panfleto que estava
estendendo.
- Certo, obrigada. Ou seria
obrigado? Perguntou baixo o suficiente para que o garoto, que já
havia dado as costas, não ouvisse.
E não ouviu, nem sumiu de vista.
Sem desgrudar os pés do chão, explorando a paisagem limitada pelo
eixo do próprio tronco, ela contou quantos entregou para os outros
passantes, os que colocou nas maçanetas e para-brisas dos carros,
nas caixas de correio das casas. Foram quatorze, fora o maço que
enfiou dentro de um saco de lixo. Calculou que dava pra entregar mais
por cada rua e assim, terminaria antes e evitaria o mau humor das
horas trabalhadas. Se bem que a tolerância diminuiria como as horas
e a rabugice seria inevitável. Apesar da hora e data, a cidade
estava estranhamente vazia. Depois que o garoto sumiu, só era papel
e ela e paisagem.
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